sexta-feira, 24 de abril de 2009

Loucos e Sonhadores

O bar estava muito cheio, não havia mesa para nós.

Aos caídos, um rapaz de camisa ao quadrados tentou receber-nos com a máxima simpatia que a sua bebedeira permitiu. Fiquei colada ao chão a observa-lo, intrigada. Estava a reconhecer aquela forma engraçada de se tentar endireitar e falar ao mesmo tempo com uma espécie de inquietude à mistura… Mas de onde?

- Vamos beber um copo? – disse.

Fez-se luz!

- Eu lembro-me de ti! Estavas uma vez à porta do Lux, já de manhã, exactamente no estado em que estás agora.

Ele encolheu os ombros divertido.

- E até me lembro onde é que moras… é ao pé da rotunda das Olai… não!

- Olivais! – dissemos em uníssono. Ele riu-se ainda mais.

Perguntou 20 vezes para onde íamos a seguir, e outras tantas se não queríamos mesmo ir beber o tal copo. Dei-lhe conversa um bom bocado.

Reparei que trazia uma sacola à tiracolo cheia de livros. Disse que tinha vindo das aulas «lá do fundo do Bairro» para ali. E fez-me pensar… Não devia ter mais de 25/26 anos…. Saiu das aulas e rumou rua da Rosa acima para se embebedar sozinho e ali ficar, trêbado, a pedir conversa aos demais. Tive pena. Sentou-se no passeio à frente do bar a pedir que nos sentássemos também a conversar com ele. Mas já chegava de conversa sem sentido… apertei-lhe a mão em despedida e descemos um pouco a rua.

Algum tempo depois resolvemos voltar ao Loucos e Sonhadores. Havia uma mesa ao fundo que ocupámos rapidamente. Aquele sítio encheu-me de tão acolhedor que era. Ali é possível agarrar num dos imensos livros ou revistas e ler ou folhear. É possível perder-nos dentro de todos os quadros e fotografias que forram as paredes ou descobrir objectos engraçados pelos cantos. É possível conversar alegremente sobre a vida envolvidos por um som variado. É possível fazer tudo isto ao mesmo tempo e passar um bom serão.

O rapaz da camisa aos quadrados entrou cambaleando e sentou-se ao balcão a beber outra imperial. Mantinha um movimento ritmado de tentativa de equilíbrio enquanto comia pipocas de forma pouco elegante. Como seria ele perante a vida? Será que tinha objectivos pelos quais lutava ou perder-se-ia entre bares constantemente?... E que tinha eu a ver com isso? Petisquei também umas pipocas e continuei a conversar alegremente, esquecendo o rapaz… Não devia ser assim tão diferente de nós… um pouco louco… um pouco sonhador…



1 comentário:

F disse...

engraçado...
na noite que o vimos no lux pensei mesmo que fosse um garotito de 18 aninhos pela figura patética que estava a fazer...
mas vai para sempre ficar na minha memória a mítica deixa "com qual das rotundas tens mais prioridade?"
sao episódios e pessoas que ficam...e o mais giro disto tudo são mesmo estes reencontros inesperados.